A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino – Contee se manifesta contrária à precipitação na volta às aulas, como pretendem o Governo Federal e vários proprietários de escolas particulares, e defende que o retorno das atividades escolas seja realizado com critérios científicos e garantindo condições seguras e saudáveis de aprendizado e trabalho.
Pressão criminosa
O presidente Jair Bolsonaro sempre foi contrário ao isolamento social e considera que o coronavírus “é realmente muito perigoso para quem tem uma certa idade, para quem tem uma doença. Para a juventude não tem esse perigo todo” (até o dia 21 de maio, ao menos 116 pessoas de até 19 anos de idade haviam morrido em decorrência da COVID-19, de acordo com o Ministério da Saúde). Ignorando a pandemia, afirmou que “não adianta se acovardar, ficar dentro de casa. Nós sabemos que a vida é uma só. Sabemos dos pais que estão preocupados com os filhos voltarem à escola. Mas tem que voltar à escola, nós não temos nenhuma notícia de alguém abaixo de 10 anos de idade que contraiu o vírus e foi a óbito ou foi para a UTI”.
Já a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) chegou a apresentar um plano para que os estudantes levem sapato extra para entrar nas salas, troquem de máscara a cada 3 horas e guardem ao menos um metro de distância um dos outros. O presidente da entidade, Ademar Pereira, preocupa-se com a segurança jurídica de suas empresas filiadas, e não com a saúde dos alunos e profissionais do setor ou a qualidade do ensino: “Sugerimos que esse protocolo seja seguido em todos os locais para evitar que as escolas sejam questionadas depois se houver algum caso de transmissão”, confessou, admitindo a possibilidade de contaminação.
Contágio em expansão
A despeito do que dizem estes senhores, o Brasil tem apresentado rápido crescimento nos números de casos e de morte por COVID-19, com constantes recordes diários. O país está na fase do crescimento exponencial, que pode acelerar de forma imprevisível e exigir medidas drásticas para evitar novos casos e interromper a cadeia de transmissão. O Imperial College, do Reino Unido, estima que cada brasileiro com COVID-19 infecta de dois a três outros.
Na Alemanha, o contágio aumentou uma semana após o início da flexibilização do isolamento. Singapura, que teve sucesso com as medidas para contenção da infecção, retomou o lockdown após verificar novo aumento do número de casos depois da flexibilização. Vários países do mundo reconhecem e temem o surgimento de uma segunda onda de casos após o relaxamento do isolamento social.
Segundo o Instituto Cochrane, as medidas de isolamento social reduzem em 44% a 81% o número de pessoas com a doença e em 31% a 63% o número de mortes, mas os casos podem ressurgir com o aumento do contato social se as empresas, indústrias, comércios e escolas retomarem suas atividades. Políticas de controle, como distanciamento físico, e mudanças de comportamento (higienizar as mãos, usar máscaras, evitar aglomerações, trabalhar remotamente) deverão ser mantidas por meses, ou até existirem vacinas ou medicamentos eficazes e acessíveis.
A flexibilização das medidas de isolamento social demandam conhecimento da evolução da epidemia e estratégias e recursos para monitorar seus efeitos. É baixíssima a cobertura de testes para apurar a incidência do COVID-19 na população brasileira. Na Itália foram 23.000 testes/milhão de habitantes; 32.891 testes/milhão na Alemanha; 64.977 testes/milhão na Espanha; 37.188/milhão nos Estados Unidos. Até 20 de maio, o Brasil realizou apenas 3.462 testes por milhão de habitantes…