O especialista em relações internacionais Fernando Horta explica os métodos antipandemia Herd Immunity (imunidade do rebanho) e Social Distancing (distanciamento social) e a falta de proteção aos pobres
Por César Fraga / Publicado em 27 de março de 2020
“Quando no meio de uma quarentena para atenuar a disseminação do Covid-19 (novo coronavírus) você acorda numa segunda-feira pela manhã e tem um decreto do governo dizendo que seu salário pode ser cortado por quatro meses, mesmo voltando atrás, fica muito claro quais são os grupos que estão sendo protegidos pelo governo e quais aqueles que estão sendo jogados na pandemia para que virem literalmente gado”.
É o que diz Fernando Horta, historiador formado pela Ufrgs, doutor em Relações internacionais pela UnB e pós-doutor pela Universidade de Denver. Para ele, os pronunciamentos e escolhas do presidente Jair Bolsonaro evidenciam a ênfase na “economia” e o pouco caso que faz das vidas que “serão perdidas”.
Bolsonaro é adepto da teoria Herd Immunity (imunidade do rebanho), que consiste no confinamento vertical, defendida por Donald Trump e, inicialmente, pelo primeiro ministro inglês Boris Johnson, depois abandonada – ele próprio contraiu o coronavírus e passou a recomendar o confinamento total.
Entre os motivos do britânico, as experiências catastróficas da Itália e da Espanha confrontadas com o êxito Chinês na contenção. Italianos e espanhóis tiveram de mudar tardiamente para um segundo modelo após o colapso dos sistemas de Saúde. Passaram a adotar o chamado Social Distancing (distanciamento social), que em parte aplica os procedimentos que os chineses também adotaram tardiamente, mas de forma radical.
Porém, os europeus só mudaram de rota depois de colher os prejuízos (e cadáveres) provocados pela escolha inicial. A opção dos europeus pelo isolamento vertical causou um número de mortos superior aos da China, onde surgiram os primeiros casos e a epidemia, já está controlada.
Fernando Horta explica a disputa no mundo capitalista ocidental entre esses dois modelos Herd Immunity e Social DIstancing, assim como também a alternativa apresentada pelas experiências chinesa, sul-coreana e cubana, embora consideradas modelares pela Organização Mundial da Saúde (OMS), temidas por questões ideológicas. Para ele, há uma insuficiência do capitalismo liberal em dar respostas à crises como essa e um medo do mundo ocidental de que a China se apresente como modelo.