O professor Rodrigo de Paula, diretor jurídico do Sinproep, analisa o trabalho da professora Andréa L. Harada Sousa publicado no Le Monde Diplomatique – Brasil, que expõe as mazelas do sistema EaD na educação brasileira
O artigo da professora Andréa Harada Sousa publicado no Le Monde Diplomatique – Brasil, com o título “Trabalho docente e ensino a distância nas escolas privadas”, define de forma contundente, o grau de exploração a que estão submetidos os professores e professoras, com a adoção de atividades remotas com o uso das novas tecnologias educacionais, nesse período de crise da Covid-19.
O trabalho da professora Harada mostra que as escolas privadas, com a adoção dessas atividades remotas, insinuam que a tecnologia, por si só, substitui o trabalho pedagógico dos professores de forma espontânea e cria no imaginário dos alunos e dos pais, que com a máquina, a interferência dos docentes não é mais fundamental e é secundário ou dispensável no processo ensino/aprendizagem.
Na sua análise a professora constata que a crise da Covid-19 acarretou mudanças imediatas na rotina profissional e familiar dos professores e professoras, que de uma hora para outra, viram suas casas se transformarem em sala de aula para que “a escola pudesse continuar funcionando na casa e na tela dos estudantes”, obrigando os docentes a se adaptarem e a criar soluções rápidas que viabilizassem a continuidade das atividades pedagógicas, sem qualquer preparação prévia.
Na visão do Sinproep-DF, a crise deflagrada pela Covid-19, com as medidas provisórias editadas pelo governo Bolsonaro, tornou-se mais grave, porque entre outras coisas, permitiu a retirada de direitos consagrados na CLT, nas convenções e acordos coletivos, como a redução de salários, da jornada de trabalho, antecipação de férias e fim do recesso escolar, favorecendo aos empresários e prejudicando os trabalhadores.
Somando a intensificação do ataque aos direitos dos trabalhadores, as medidas tomadas pelo governo, buscou afastar os sindicatos da mediação dos contratos individuais previstos nas MPs, a parcela de trabalhadores mais vulneráveis ao assédio patronal, que se veem obrigados, por força do desemprego crescente, a aceitar os acordos abusivos de diminuição de salários, embora a carga de trabalho tenha triplicado com a adoção das atividades remotas nesse período.
Nesse aspecto, diante da situação em que nos encontramos, diante das ameaças do EaD ao trabalho docente, concordamos com a professora Andréia, quando afirma ser importante “que o compromisso de professores e professoras com estudantes e com a educação não tenha como contrapartida a retirada de direitos, o controle e a vigilância sobre seu trabalho, a submissão da docência à tecnologia, o acúmulo de atividades e a estafa física e mental”.
Em pouco mais de um mês, constatamos no Sinproep que já foram assinados mais de mil acordos individuais, de redução de salários e suspensão de contratos de trabalho. Uma contradição que o setor patronal procura ocultar o excesso de trabalho submetido aos professores e professoras e não queiram, de forma oportunista, transformar esse período de excepcionalidade em continuidade do trabalho remoto, após o fim da Covid-19.