Nesta semana, o Laboratório de Dinâmica de Doenças da Universidade de Brasília (UnB) fez uma projeção dos impactos do novo coronavírus só no Distrito Federal, sem contabilizar o Entorno, e constatou que a previsão será de 350 mil casos sintomático e sete mil óbitos pelo Covid-19 no DF neste período. O índice de contaminação é semelhante ao número de mortes pela gripe espanhola 102 anos atrás.
Além da semelhança do número de contaminação, o caos também está parecido ao ocorrido entre os anos 1918 e 1920, no Brasil, com a chegada, em setembro de 1918, do transatlântico Demerara, procedente da Europa, que atracou em alguns portos, como no do Rio de Janeiro, de Salvador e de Recife, e desembarcou centenas de passageiros infectados pela gripe espanhola. Um mês depois, o País inteiro já estava submerso numa das mais devastadoras epidemias da sua história.
Diante do caos da pandemia do coronavírus, o jornal El País ousou lembrar da importância da existência do Sistema Único de Saúde (SUS) – uma estrutura gigantesca, erguida dentro das mais avançadas normas da eficiência e eficácia, capaz de suportar uma epidemia e qualquer outra onda de doenças letais que avance sobre a população mais carente. O SUS surgiu durante a avassaladora passagem da gripe espanhola (vírus influenza) no Brasil, entre 1918 e 1920. Na época, o influenza matou milhares de brasileiros.
Na primeira quinzena de março, o jornal El País resgatou esse momento da história do século XX e contou um pouco do terror vivido. A pandemia infectou 500 milhões de pessoas ao redor do mundo, cerca de um quarto da população do planeta na época. O caos estava nas ruas do Brasil, um país sem uma estrutura pública de saúde e que, por causa disso, registrou mais de 300 mil mortes pela gripe espanhola.
Nos anos 10 e 20 do século passado, não havia hospitais e nem serviço público de saúde no Brasil. Havia Santas Casas de Misericórdia, geralmente por iniciativa da Igreja Católica, que viviam de doações e de cobrança monetária dos atendimentos de quem podia pagar. Na época, as pessoas de maior poder aquisitivo se isolaram em suas fazendas. A maior parte das mortes ocorreu nos bairros mais humildes, nas favelas, na classe média e entre a população mais carente.